sexta-feira, 4 de setembro de 2015

De Neto Henrique - O EPITÁFIO DA SAUDADE

Neto Henrique
Um deus de pés doentes
Sem dentes e desvairado
Se achava a caminhar léguas
A lamentar seus tristes fardos 

Filho da Distância e Desejo
Desajeitado deus errante
Crescido só na imensidade
E conhecido como Saudade

Sem necessidade de existir
Era apenas uma triste criatura
Afastava a todos com sua feiura
E andava sem a nada ser apegado

Um dia de sol e muito vento
Avistou em um vale iluminado
Formosa figura sem maldade 
A ingênua deusa Felicidade

Dançava com as ninfas e a brisa
Brincava com todos os animais
Amava a todos como irmãos
E confortava os pobres mortais

Escondido, contemplava a deusa
Doce e bela, quem dera fosse sua
Baixou a cabeça ao lembra da feiura
Distraído, não viu que a noite chegou

O deus Saudade se assustou
Ao ver Felicidade em seu leito
Na noite escura, o seu desejo:
Roubar de sua boca um beijo

Tão alegre e formosa divindade
De Saudade ganhou o coração
Que na escuridão, sem ela saber 
Beijou seu corpo até o amanhecer

Ao nascer do sol Saudade fugiu
Viu a deusa despertar sorridente
E sem nem um motivo aparente
Para sempre do vale ela partiu

Sumiu no mundo em segundos
Deixando Saudade estarrecido
Procurando por todo eternidade 
Felicidade, seu amor proibido.

Neto Henrique
Alagoinha - PB

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