Neto Henrique |
Sem dentes e desvairado
Se achava a caminhar léguas
A lamentar seus tristes fardos
Filho da Distância e Desejo
Desajeitado deus errante
Crescido só na imensidade
E conhecido como Saudade
Sem necessidade de existir
Era apenas uma triste criatura
Afastava a todos com sua feiura
E andava sem a nada ser apegado
Um dia de sol e muito vento
Avistou em um vale iluminado
Formosa figura sem maldade
A ingênua deusa Felicidade
Dançava com as ninfas e a brisa
Brincava com todos os animais
Amava a todos como irmãos
E confortava os pobres mortais
Escondido, contemplava a deusa
Doce e bela, quem dera fosse sua
Baixou a cabeça ao lembra da feiura
Distraído, não viu que a noite chegou
O deus Saudade se assustou
Ao ver Felicidade em seu leito
Na noite escura, o seu desejo:
Roubar de sua boca um beijo
Tão alegre e formosa divindade
De Saudade ganhou o coração
Que na escuridão, sem ela saber
Beijou seu corpo até o amanhecer
Ao nascer do sol Saudade fugiu
Viu a deusa despertar sorridente
E sem nem um motivo aparente
Para sempre do vale ela partiu
Sumiu no mundo em segundos
Deixando Saudade estarrecido
Procurando por todo eternidade
Felicidade, seu amor proibido.
Neto Henrique
Alagoinha - PB
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